Parte – 1 – Introdução
Para que estudamos as ciências humanas?
Quase toda profissão que não esteja relacionada às ciências biológicas e exatas sofre com o mesmo problema: todo mundo entende, ou acha que entende. A grande verdade é que nos tornamos experts em tudo o que está relacionado ao nosso dia-a-dia e relações interpessoais. Convivemos tanto com o Marketing, Publicidade, Relações Públicas, Jornalismo, Informática, Programação Política ao ponto de nos julgarmos conhecedores profundos da coisa ou, na melhor das hipóteses, desmerecer essas áreas como ciência.
Você não chama seu sobrinho nerd para fazer o projeto da sua loja. Mas não pensa duas vezes em chamá-lo para fazer o marketing digital, o site e por aí vai… Se são coisas tão simples, será que as faculdades dessas áreas são apenas desperdícios de tempo? Vamos ver.
Você está defendendo reserva de mercado…
Não estou aqui pensando em reserva de mercado, longe de mim pensar nisso. Pelo contrário, grandes publicitários, talvez os maiores do país, não são publicitários. E, diferentemente de um médico, por exemplo, não há necessidade do diploma para ser um bom profissional. O cara pode ser simplesmente genial, ter vários insights, aprender na prática…
Evidentemente que, partindo do zero, o cara que estudou sai alguns passos à frente. Sim, temos teorias, dados e até psicodinâmica de cores, diagramação, técnicas de redação, escolas de design, dados de público e audiência, comportamento, tipos de mensagem… Esses são dados que ajudam a sair na frente, até a lidar com possíveis reveses. Mas, é óbvio, se o cara for uma máquina de insights geniais, só nos resta curvar ao seu talento. Sem contar, claro, que a experiência conta. Um cara que não estudou publicidade, mas vive esse mercado há trocentos anos, certamente aprendeu mais do que um recém formado. A crítica não é essa.
Vou até pegar um exemplo polêmico aqui: possivelmente – e não serão raras as vezes que você ouvirá isso de engenheiros mais velhos – um engenheiro experiente confiará mais no cálculo de um pedreiro experiente do que de um engenheiro calculista recém formado. E o cálculo do pedreiro não têm números. Ele simplesmente vai falar: cara, isso não é suficiente para segurar essa parede. O novato vai responder: os números dizem que sim. O experiente falará: já fiz antes, não segura! O novato ainda aprenderá muito e se for humilde o suficiente vai chegar em casa e refazer tudo para ver onde errou.
O mesmo acontece com residentes e enfermeiros mais antigos (isso já vi de cadeira cativa). Sou primo de uma chefe de enfermagem de um grande hospital daqui da região metropolitana de BH e não são raras as vezes que ela relata que tem de corrigir os médicos residentes e que os médicos antigos, nesses casos, confiam nos enfermeiros.
Então, qual a crítica?
A crítica é àqueles que nunca viveram o mercado, fazem um curso sem ter a base de conhecimento (ou de experiência) necessária e por conta disso se julga expert e capaz, inclusive, de analisar o seu trabalho. Mas o mundo não funciona assim. Não resta dúvidas que, como jornalistas, somos generalistas na maioria dos assuntos. Mas o conhecimento sobre a nossa área específica, de comunicar, é mais profundo do que a maioria das pessoas imaginam.
Não nos deixei cair em tentação… a Internet!
A internet e as redes sociais vieram com um novo fenômeno: o marketing digital e seus gurus. Agora, além do grande problema de todos acharem que sabem tudo de marketing, surgiu um novo fenômeno: os cursos de marketing digital (ou parte deles) que fazem milhares de promessas.
Não quero, nem vou desmerecer nenhum deles. Se você for a um grande evento de cursos, como o Fire Festival da Hotmart (que participo há 3 anos), verá que há os cursos bons e os ruins, como tudo na vida. Você verá, no entanto, que há muitos que são tautológicos: “cursos de marketing ensinando pessoas a venderem cursos de marketing”.
Repito, não estou desmerecendo os cursos. Já fiz alguns deles, por questão de benchmark e por enriquecimento profissional também. A grande questão – e aí vem a diferença de quem estudou, ou não – não é nem filtrar o joio do trigo, mas é como aplicar seus conhecimentos recém adquiridos.
As propagandas dos cursos são sedutoras, é verdade, mas, nem sempre, a realidade é tão sedutora assim. Mas vamos por partes, para não perder a cronologia.
Você sabe o que está estudando?
Falando exclusivamente de marketing – o termo da moda dos cursos online -, as pessoas se julgam doutores marketólogos, mas nem sabem o que o Marketing é de fato. Confundem e misturam com Propaganda, Publicidade, Relações Públicas e até com Jornalismo. Isso, em grande parte, é culpa nossa.
Muitas vezes, do lado de cá, usamos essas expressões, sobretudo Marketing, Publicidade e Propaganda como sinônimos, mesmo sabendo que não são. O motivo é simples: nosso objetivo está longe de educar. O que queremos é ser compreendidos, e se o termo da moda para entenderem é marketing, usaremos marketing. Verdade seja dita, nosso objetivo não é fazer refletir. Isso fica a cargo dos jornalistas, escritores e artistas. Nós queremos é que você entenda e decida, direcionar a sua interpretação em favor de um produto.. De toda forma, já aviso: Marketing e Publicidade não são a mesma coisa e a maioria de vocês não sabe o que está procurando.
Você quer saber o que procura de verdade? Então leia o próximo post da série. Sai semana que vem!